A sexta edição do Fantaspoa (Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre) apresenta entre suas atividades paralelas dois cursos de cinema direcionados ao público interessado em conhecer mais profundamente os gêneros mais populares da sétima arte. Dando continuidade ao sucesso do curso A História do Cinema de Horror, ministrado pelo jornalista, pesquisador e crítico Carlos Primati na edição passada do festival, o evento deste ano oferece os cursos O Horror no Cinema Brasileiro e A Ficção Científica da Década de 1950, totalizando 8 horas de curso cada um. O primeiro acontecerá nos dias 10 e 11 de julho, e o segundo no final de semana seguinte, dias 17 e 18, ambos ministrados por Primati, que desenvolveu material inédito e exclusivo para apresentar no Fantaspoa. O segundo curso, que apresentará a gênese da ficção científica com um panorama do gênero em sua década mais produtiva, contará com a participação de Marcelo Severo, especialista no tema que já colaborou em outras edições do festival.

Os cursos irão ocorrer na Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro, das 10:00 às 14:40, com 40 minutos de intervalo para almoço, nos dias 10, 11, 17 e 18 de julho. O valor individual de cada curso é R$60,00. Caso o interessado queira fazer os 2 cursos, o valor total é de R$110,00. Para informações sobre como realizar sua inscrição, entre em contato pelo e-mail nicolas@fantaspoa.com.

Ficção Científica da Década de 1950:
temor da bomba atômica e horrores da era nuclear

As bombas atômicas despejadas pelos norte-americanos em 1945 sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki não somente colocaram um fim súbito nos conflitos bélicos da Segunda Guerra Mundial, mas também tiveram seus efeitos devastadores sentidos em toda a sociedade da época. Uma das consequências imediatas do ataque que pôs fim também à tirania de Hitler e Mussolini na Europa foi a divisão do planeta entre as ideologias capitalista e comunista. Foi o início da chamada Guerra Fria entre EUA e URSS, um período de tensão crescente e o medo de um ataque inesperado de qualquer um dos lados. O cinema não poderia ficar alheio a um dos acontecimentos mais significativos da História moderna: o horror, um dos gêneros mais populares desde os primórdios da era sonora, havia praticamente desaparecido das telas durante a década de 1940, quando a guerra mostrava horrores cotidianos muito mais assustadores do que vampiros e lobisomens. Depois do fim da guerra, o horror ressurgiria com força renovada, atualizado com os novos pavores despertados pela era nuclear. Porém, ele havia se transformado: agora se chamava ficção científica.

O curso Ficção Científica da Década de 1950: Temor da Bomba Atômica e Horrores da Guerra Nuclear, desenvolvido por Carlos Primati com exclusividade para o VI Fantaspoa, oferece uma ampla análise da produção estadunidense e britânica no gênero ao longo de toda a década de 1950. Apesar de ter surgido no início do século XX nas páginas das publicações pulp, a ficção científica não conseguiu se firmar nas telas de cinema como um gênero prolífico. As poucas realizações foram incapazes de fomentar a realização em massa de obras similares e o gênero teve que aguardar até 1950 para mostrar todo o seu potencial. O cenário era mais do que fértil, com os frequentes relatos de discos voadores sendo avistados sobrevoando os céus norte-americanos e o medo crescente de uma cada vez mais iminente devastação nuclear. Combinados com as idéias emergentes da conquista espacial, esses elementos forneceram o combustível necessário para fazer decolar um gênero que permanecera adormecido tempo demais.

O curso toma como base uma centena de filmes realizados entre 1950 e 1959, os quais exploram de diferentes maneiras os medos mais comuns da época, quase sempre gravitando em torno das consequências desastrosas da energia atômica. Os filmes foram divididos a partir dos principais temas que abordam para traçar um mapa do gênero em sua década inicial, começando pela exploração espacial e viagens interplanetárias e seguindo com os temores de uma invasão alienígena e histórias pós-apocalípticas ambientadas num mundo devastado pela guerra nuclear. Seres alienígenas hostis, traiçoeiros ou amistosos, viagens pioneiras à Lua, a Marte e muito além, mutações decorrentes da radioatividade transformando criaturas antes inofensivas, como formigas, gafanhotos ou um simples louva-a-deus, em monstros gigantes destruidores; o gênero explorou todas as maneiras de concretizar novos temores que antes sequer eram imaginados. A ficção científica da década de 1950 mostrou, acima de tudo, que a tecnologia é tão perigosa quanto indispensável; somos tão dependentes dela quanto vítimas indefesas de seu uso inadequado.

A apresentação dessa gênese da ficção científica nas telas de cinema será realizada de uma maneira que não interesse somente aos aficionados pelo tema, mas também tem como proposta oferecer um conteúdo que complemente o material do curso A História do Cinema de Horror, ministrado na edição anterior do festival. A compreensão da evolução do horror e da ficção científica passa obrigatoriamente pelo conhecimento desse período prolífico e vigoroso, o qual será mostrado num amplo panorama. Depois de uma década inteira explorando todas as possibilidades da era atômica, a ficção científica seguiu seu próprio rumo, experimentando novos temas, e o horror retornou às telas de cinema ainda mais impactante a partir da década de 1960.

O curso Ficção Científica da Década de 1950 foi escrito e elaborado por Carlos Primati, que também ministrará as duas aulas, contando com a participação muito especial de Marcelo Severo, especialista no gênero e grande conhecedor de filmes de ficção científica desse período. Severo, que já colaborou em outras edições do Fantaspoa, participará com seus comentários sempre bem humorados, pertinentes e pontuais, auxiliando na compreensão desse universo estranho, fascinante e inimitável, muitas vezes esquisito ou mesmo esdrúxulo, da ficção científica da década de 1950.