Exposição XIII, por Leo Dias de los Muertos

O XIII simboliza a transmutação, renascimento, criação e destruição.

A transformação de experiências perturbadoras em algo que possa ser amado, desde o processo criativo até o término de cada peça.

Batizada com o numeral romano a exposição é um apanhado de diversos pontos da carreira como escultor, da utilização de diversas técnicas e materiais que foram mudando ao longo dos anos a exploração de temas, todos dentro da linha horror.

Foram escolhidas treze peças explorando a morte, o inferno , os demônios que nos consomem e a alquimia indissociável da criação.

XIII inicia no último suspiro, que para muitos é a fagulha da inspiração.

Leo Dias de los Muertos.

O Coração da Cripta, por Ron Selistre

O homem mais religioso que eu conheço é um ateu. Ele mora num apartamento da zona norte de Porto Alegre, na companhia de uma linda gata de pêlo colorido. O lugar é generosamente decorado com criaturas marinhas, crânios, bruxas, cadáveres semidecompostos, fetos em conserva, cabeças encolhidas. E um busto de Edgar Allan Poe. O ar ali dentro exala uma paz que você não encontra em igrejas – e eu já estive em muitas. É ali nesse pequeno templo particular (o qual ele chama carinhosamente de Cripta) que, ao longo dos anos, o escultor, desenhista e mergulhador infernal Leo Dias exerce seu ofício sagrado.

Eu poderia falar do processo criativo dele. As técnicas intrigantes que ele mesmo pesquisa e desenvolve, com o olhar inquieto e luminoso que você nunca sabe dizer se é o de um cientista obstinado ou de uma criança brincando. Ou ambos.

Poderia contar sobre o dia em que Joey Ramone em pessoa pediu pra tirar uma foto com ele (e tirou). Poderia falar das influências e inspirações, que vão da Hammer ao Lovecraft, da literatura vitoriana à EC Comics. E aquilo tudo que se espera ler em releases e catálogos. Mas quero chamar atenção pra outra coisa.

Quando você olha pra uma peça magistral feita pelas mãos do Leo, está testemunhando o resultado de uma das mais antigas manifestações da natureza. Está vendo um exemplo da razão pela qual o sol se levanta, as chuvas enchem a terra de vida e uma criança toma seu primeiro gole de ar neste mundo. Você está olhando pra algo feito com amor.

O mesmo amor com que esse sujeito de coração imenso recebe seus amigos, fabrica presentes pra eles, cozinha pra eles. Chora suas dores. Festeja suas vitórias.

Tenho pra mim que, quando ele está sozinho imerso em sua meditação diária de espátulas e tintas, a sua mente está em paz, repousada na certeza de uma verdade muito simples. Ele sabe que, num tempo em que se prega o ódio em nome de Deus, o amor é a única religião possível. E esse artista tão brilhante, que ama não só a beleza em todas as suas formas, mas ama também o modo como essa beleza pode aproximar e transformar os seres, só pode ser descrito como um sacerdote da verdadeira religião.