Primeiros espectros do medo no cinema
O movimento expressionista alemão foi um ciclo de filmes realizados a partir do final da década de 1920 até o início da década seguinte. São obras que se notabilizam por seu clima mórbido, trágico, pessimista e sombrio, refletindo o ânimo do próprio povo alemão da época, arrasado pela derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e dominado pela ambiguidade de um movimento político de reconstrução nacionalista que culminaria com a ascensão ao poder do partido nazista. A ênfase em personagens perturbados psicologicamente e a cenografia marcada por ângulos extravagantes são algumas das marcas do expressionismo. Filmes como O Gabinete do Dr. Caligari (1920), Nosferatu, uma Sinfonia do Horror (1922), Fausto (1926), Metrópolis (1927), A Caixa de Pandora (1929), M, o Vampiro de Düsseldorf (1931) e O Testamento do Dr. Mabuse (1933) - todos deles considerados por críticos e historiadores como alguns dos filmes mais influentes da história do cinema - estão entre as obras realizadas nesse período prolífico.
O curso será apresentado com uma metodologia que visa a melhor compreensão dos temas abordados, levando em conta que são filmes antigos e que nem todos não estão acessíveis ao grande público. Isso exige, portanto, que o panorama que forma o universo expressionista seja abordado de maneira clara e objetiva. Para tanto, as aulas serão divididas em blocos trazendo uma cronologia do período, análises das obras dos principais realizadores e estudos sobre os temas mais recorrentes do expressionismo no cinema. Contando com um vasto acervo de filmes que contabiliza quase uma centena de títulos, os organizadores apresentarão durante as aulas cenas pontuais das obras mais importantes, ilustrando características do expressionismo e de todo o cinema fantástico clássico alemão. Cópias restauradas com imagem cristalina serão mostradas em aula, evidenciando o brutal contraste entre as envelhecidas e desgastadas fitas VHS, que durante décadas foram o único material sobre o tema, e a valiosa videoteca disponível atualmente graças à recuperação digital da maioria desses clássicos.
A primeira aula abordará a cronologia do cinema alemão, começando no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, quando temas mórbidos e decadentes começaram a prevalescer nos filmes locais. A seguir serão abordados os filmes do ciclo clássico expressionista, surgido no pós-guerra, quando o país ficou conhecido como República de Weimar. São dessa época obras influentes como O Gabinete do Dr. Caligari, O Golem, Nosferatu, uma Sinfonia do Horror, Dr. Mabuse, o Jogador e A Última Gargalhada, que exploram o pesadelo e a loucura de uma pátria destroçada e moralmente humilhada. Apesar de alguns pesquisadores considerarem que o expressionismo entrou em decadência depois de 1924, a escola ainda influenciou obras-primas como Fausto, Metrópolis e A Caixa de Pandora. A cronologia se encerra com o início do cinema sonoro, representado por filmes como O Anjo Azul, M, o Vampiro de Düsseldorf e O Testamento do Dr. Mabuse. Ainda vigoroso e sem demonstrar sinais de declínio, o cinema fantástico alemão desapareceu subitamente com a ascensão do nazismo ao poder, em 1933.
O segundo dia de curso será dedicado ao estudo das obras de alguns dos principais cineastas expressionistas, com destaque para mestres como Fritz Lang e F.W. Murnau. Um dos realizadores mais completos do cinema, Lang transitou por diferentes gêneros, indo do filme policial e de espionagem, como As Aranhas e Dr. Mabuse, até os filmes de fantasia e ficção científica, como Os Nibelungos e Metrópolis, passando ainda pela fantasia de horror (Pode o Amor Mais Que a Morte) e praticamente inventando o filme sobre psicopatas com a obra-prima M, o Vampiro de Düsseldorf. Outro grande gênio do cinema mudo foi F.W. Murnau, que demonstrou sensibilidade e domínio absoluto da técnica cinematográfica em obras como Nosferatu, Fausto e A Última Gargalhada. O curso também abordará Richard Oswald (Contos de Hoffman, Histórias Tenebrosas), Robert Wiene (O Gabinete do Dr. Caligari, As Mãos de Orlac), Paul Leni (O Gabinete das Figuras de Cera) e G.W. Pabst (A Caixa de Pandora).
O final de semana seguinte, nos dias 9 e 10, será dedicado ao estudo dos temas mais recorrentes do expressionismo, buscando compor uma identidade deste cinema fascinante, e cuja preocupação com tormentos da mente e do espírito influenciariam os próximos ciclos de filmes de horror mundo afora, permanecendo pertinente e moderno até hoje. O döppelganger, o duplo maligno, será um dos temas abordados, presente em obras como O Estudante de Praga, O Pavor e Metrópolis. A criação de vida artificial, mostrada por meio de mágica em O Golem e pela ciência em Metrópolis, também é uma característica do cinema germânico. Pactos diabólicos, como em Fausto, e discussões filosóficas com a Morte, como em Pode o Amor Mais Que a Morte, também marcam presença nessas obras. Os dramas históricos e filmes de fantasia no estilo Mil e Uma Noites representam uma parcela significativa da produção muda germânica. O período final, em meados da década de 1930, com a chegada do som, temas como gênios criminosos, mulheres fatais e decadência moram dominaram um cinema cada vez mais pessimista e contundente, mas que nunca deixou de ser relevante, misterioso e encantador.
PROGRAMA COMPLETO:
AULA 1 (Cronologia do Cinema Clássico Alemão) – 2 de julho
1. As origens do cinema fantástico alemão (1912-1919)
2. Pesadelo e loucura na visão expressionista (1920-1924)
3. Poesias da cidade e delírios megalômanos (1925-1929)
4. O cinema sonoro e o fantasma do nazismo (1929-1933)
AULA 2 (Os Grandes Diretores do Expressionismo) – 3 de julho
1. Richard Oswald: o esquecido artesão do horror
2. Robert Wiene: o legado de um cineasta visionário
3. Fritz Lang: o grande mestre em todos os gêneros
4. F.W. Murnau: a visão sombia de um gênio absoluto
5. Paul Leni: o horror com toque de humor e magia
6. G.W. Pabst: o cronista da angústia e da decadência
AULA 3 (O Expressionismo em Temas, parte 1) – 9 de julho
1. Duplo maligno (O Outro, O Estudante de Praga, O Pavor, Metrópolis)
2. Criação de vida artificial (O Golem, Homunculus, Mandrágora, Metrópolis)
3. Pactos diabólicos (O Estudante de Praga, O Retrato de Dorian Gray, Fausto)
4. Morte personificada (Hilde Warren e Sua Morte, Pode o Amor Mais Que a Morte)
AULA 4 (O Expressionismo em Temas, parte 2) – 10 de julho
1. Dramas históricos (Madame DuBarry, Sumurun, Ana Bolena, Helena de Tróia)
2. Gênios do crime (O Gabinete do Dr. Caligari, As Aranhas, Dr. Mabuse, Metrópolis)
3. Decadência moral (A Última Gargalhada, Diário de uma Pecadora, O Anjo Azul)